Consequência, Escolha e Responsabilidade


Recentemente discutimos no blog do Nerdanderthal (@Nerdanderthal) sobre a questão da corrupção nas licitações públicas. É uma vergonha sem fim, afinal empresas se aproveitam de acordos ilícitos para se apropriar do patrimônio público.

A conduta destas pessoas — e empresas — é ilegal e espero que recebam punições com todo o rigor da lei.

É inadmissível que um ser humano, em pleno 2012, aja de forma errada sabendo as regras e leis que regem um determinado assunto.

É ilegal matar.
É ilegal portar armas militares.
É ilegal estuprar.
É ilegal corromper menores.


Para todos estas ilegalidades, os cidadãos escolhem seguir ou não as leis. Se escolher não seguí-las, praticará um crime e poderá ser preso e sentenciado por sua escolha.

Pois bem, e quanto ao trânsito?

E quanto a beber e dirigir?
Conheço pessoas, as quais tenho em alta estima e consideração, que acham normal tomar uma cervejinha e dirigir.

E quanto a velocidade?
Conheço várias pessoas que andam acima (bem acima) da velocidade e contam isso com orgulho.

E quanto a desrespeitar à faixa de pedestre?
E quanto à estacionar na vaga de idosos e gestantes?
E quanto a parar em fila dupla?


Por que temos esta má educação em tudo o que é referente ao trânsito?

Em São Paulo, onde moro, uma campanha de conscientização no trânsito está sendo feita para alertar os motoristas sobre as punições para quem desrespeitar faixas de pedestres.

Na internet circula uma lista para transformar em crime o ato de dirigir embriagado.

http://naofoiacidente.org/blog/

Devo dizer que conheço muita gente que assinou à petição e que comete várias outras infrações.

Mas quem sou eu para atirar a primeira pedra?

Confesso que quando era jovem, com pouca experiência no trânsito, me gabava de andar a 190km/h na Rodovia Cândido Portinari, entre Ribeirão Preto e Franca, no meu Opala Diplomata 6cc. Andei com o som alto feito um trio elétrico. Tirei rachas. Ganhei umas. Perdi outras.

Gostava de pensar que arriscava apenas a mim mesmo. Que sempre corria sozinho, em rodovias pouco movimentadas ou contra pessoas que estavam dispostas a correr os mesmos riscos que eu.

Talvez não pensasse no "E SE", como passei a pensar depois de ser pai e ter uma família.

E SE aparecesse um trator na minha frente
Já vi um Passat se arrebentar contra um trator na estrada que liga Barretos-SP à Franca-SP.

E SE um outro carro cruzasse à rodovia
Já vi isso acontecer com duas camionetes num trevo próximo a José Bonifácio-SP.

E SE um cachorro entrasse na frente do carro
Isso aconteceu comigo a 140km/h em Badi Bassit-SP e arrebentei a frente do carro da família.

E SE perdesse o controle do carro e caísse de uma ponte
Aconteceu com um grupo de 5 pessoas na Bahia. Todos morreram.

Os "E SE" é que nos alertam sobre as consequências que podemos ter ao fazermos escolhas erradas. Escolher respeitar as leis de trânsito é obrigação de todos. Obedecer estas regras mostra responsabilidade e respeito para com o seu próximo, sua família e seus amigos.

Acabei de comprar um GPS que deveria se chamar "GPS PAPAI". Ativei os recursos de alerta de velocidade e, estando em uma rodovia com o limite de 80km/h, o GPS emite um aviso quando atinjo aos 82km/h.

Parece meu pai falando:

VOCÊ ESTÁ ACIMA
DA VELOCIDADE MÁXIMA!
Enquanto eu não reduzo a velocidade, uma placa com a indicação 80km/h aparece no canto do aparelho. É uma forma de mostrar a todos os ocupantes do veículo que EU, MOTORISTA, optei por andar acima da velocidade da rodovia.

Como disse, depois de constituir família, virei um babaca. Sempre respeito as leis de trânsito. Ando rigorosamente dentro dos limites de velocidade e vejam o que me aconteceu:

Nestas férias fui, com minha esposa, para Águas de Lindóia-SP. Durante todo o trajeto passei por várias rodovias. Quando saí da Fernão Dias, que tem velocidade de 110km/h ~ 120km/h, peguei uma estradinha para Socorro-SP. O novo limite de velocidade era 80km/h. Formou-se uma fila atrás do meu carro. Carros me ultrapassaram. Ônibus. Caminhões. Etc. Alguns faziam gestos de "encosta", "sai da frente" e outros gestos menos respeitosos.

Ali vi que o "errado" era eu. O normal seria aproveitar uma pista com poucos radares e correr como um jovem motorista, desses que não pensam nas consequências das suas escolhas.

Talvez, se tivesse considerado as possibilidades da sua direção, o motorista do Punto que se acidentou na Bahia tivesse preferido andar mais devagar. Infelizmente neste "E SE" que vivemos ele não agiu assim.

Agora uma das mães vai se lembrar pro resto de sua vida que no dia do seu aniversário cinco jovens, incluindo sua filha, morreram porque não educamos bem os nossos filhos. 

Nem para o trânsito. 
Nem para a política. 
Nem pra nada!